sexta-feira, 23 de agosto de 2019

PESTALOZZI - DESPEDIDA 1974

Despedir-me do Educandário Pestalozzi, foi humanamente difícil. Noiva do meu amado esposo, em 15 fevereiro de 1975, casamo-nos e viemos morar no Rio de Janeiro. Só um amor muito grande me levaria a deixar a minha querida Coaraci, meus pais, irmãos, amigos, colegas, diretores  e meus alunos do Educandário aonde dediquei cinco anos da minha rica existência. 
Na vida bifurcam inúmeros caminhos que nos levam a danosas ou sábias escolhas: Quando escolhi a estrada do "Ensinar" sabia que não trilharia sozinha. Meu coração, minha mente e espírito me acompanhariam nesta iluminada escolha. Em março de 1970 adentrei a porta
Linalva Vila Nova
principal do Educandário Pestalozzi, o fiz com garra, determinação e muito amor. Cada aluno era um ser único e especial, cada um trazia a sua própria história. Desejei conhecer a bagagem de vida de cada aluno porque sabia que muitos traziam uma bagagem rica de amor vivida no seio de famílias amorosas e, outros, carregavam uma história de abandono, castigos e sofrimentos.  A indisciplina de alguns era fruto da revolta, da solidão, da falta do amor e da atenção dos seus. Prometi a mim mesma ser uma professora na "essência e responsabilidade que esta profissão carrega" entregando-me por inteira. Dela e somente dela podem advir uma gama diversificada  profissões e excelentes profissionais. Amei a todos por igual sem distinção do meio social a que cada um pertencia. Usei da minha autoridade e disciplinei como devia.
 Jamais enviei um aluno à secretaria porque não queria enfraquecer a minha autoridade em sala de aula. Disciplinava ali mesmo conversando ou passando exercícios para que me trouxessem na próxima aula numa forma disciplinar.
Sei que vivi outros tempos em que o mestre tinha a aquiescência e o apoio da família. 
Os pais iam ao colégio perguntar o que o filho tinha aprontado. Hoje a pergunta é outra: - Vim saber o que o professor sicrano fez ao meu filho tirando assim, a autoridade do corpo docente que compõe uma Escola. Um mundo sem hierarquia está condenado à anarquia e ao aniquilamento.
Retornando às minhas lembranças... Quando comuniquei ao colégio o meu desligamento foi como se uma ave abandonasse os filhotes no ninho. Foi um sentimento recíproco. 
Os alunos prepararam uma festa de despedida no salão nobre com apresentações de teatro, música, discursos de agradecimento e presentes pedindo-me que eu jamais os esquecesse. Como esquecer dias tão ditosos quando o amor reina por inteiro? Entre lágrimas e soluços não consegui dizer uma palavra. Minha família estava presente a tão rica e belíssima homenagem aumentando a minha emoção.
Em 1974 tive a honra de ser convidada pelos alunos da oitava série para ser a paraninfa  da turma. Foi uma grata surpresa e motivo de reconhecimento, amizade, carinho e honra.
Fugindo aos tradicionais discursos nas Colações de Grau, escrevi uma pequena peça teatral que seria apresentada pelo "grupo teatral do Pestalozzi". Após a abertura da solenidade pela
Diretora Maria de Lourdes Ramos da Silva, o representante da sala proferiu um belíssimo  discurso saudando professores, agradecendo a mais uma etapa concluída e relembrando os momentos vividos por todos no decorrer de quatro anos. Com honras e pompas os certificados foram entregues a cada aluno acompanhado do seu pai, mãe ou um parente próximo. 
Marialda, Jailda e marialda.
A seguir, a diretora dirige-se ao público, que lotava o Salão Nobre do Pestalozzi, anunciando que que a  saudação da paraninfa seria feita com a apresentação e uma peça teatral vivida pelas alunas e professoras do colégio.
Abre-se a cortina, no cenário destaca-se um imenso coração florido com uma porta ao centro.  Uma jovem, vivida por Linalva Vila Nova, representando A Mocidade, aparece ao palco questionando a vida, lembrando os anos vividos no colégio e porque a vida tinha que ter altos e baixos, ganhos e perdas. No momento em que refletiu sobre a alegria, eis que sai de dentro do coração uma jovem num longo  vermelho escarlate toda feliz representando a Alegria! . Dirige-se a
Mocidade e  pergunta: -Alguém me chamou?
 Um longo diálogo é travado entre as duas. A Alegria se despede e desaparece. A Mocidade questiona a tristeza e a Tristeza vestida de preto sai  do coração e um novo diálogo as envolve. Assim que a Alegria se despede Surge a Esperança num longo verde-esmeralda, dialoga e também se vai. O Tempo vestindo marrom, vivido por Gentília Ramos não para um segundo. intrigada, a Mocidade pergunta: - Porque você não para? 
-Porque eu sou o Tempo e o tempo não pode parar.
Finalmente, na porta do coração surge a Saudade, representada por Janete Farias trajando um longo vestido lilás. O último diálogo é travado entre as duas: A Mocidade dialoga sobre a Alegria, a Tristeza, o Tempo, e a Esperança... A seguir indaga: - Por que todas passaram por mim e partiram e você continua no coração a conversar comigo? 
A Saudade suavemente explica: - Porque tudo nesta vida passa, tudo é efêmero. Vivemos momentos bons ou ruins mas nada é eterno. Aprenda que só a saudade permanece no coração para sempre.
Fecha-se a cortina abrindo-se em seguida. As atrizes retornam de mãos dadas, reverenciando a todos. O público  se ergue num longo silêncio entrecortado por palmas e soluços sufocados. Desce a cortina e a Saudade... Ah! esta aí mais que depressa toma os corações e permanece nele para sempre.
Carta de despedida recebida do Educandário Pestalozzi assinada pela minha diretora, grande mestra e amiga inesquecível.
























Reafirmo, Lurdinha foi mais que minha amiga, aqui no Rio foi minha segunda mãe.

Rio, 12 de setembro de 2019.
Jailda Galvão Aires.
Arquivo pessoal.   

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