quarta-feira, 28 de agosto de 2019

FESTIVAL DA CANÇÃO EM COARACI

Zequinha no violão, Bruno, autor da canção "Os Retirantes"e Jailda interpretando
O FESTIVAL DA CANÇÃO em Coaraci, marcou a década de 1970 revelando talentos até então adormecidos por falta de oportunidade.
À exemplo do festival Internacional da Canção que objetivava divulgar a MPB promovendo intercâmbio cultural entre grandes centros musicais do mundo, Coaraci não haveria de ficar de fora. 
Zequinha no violão, Bruno e Jailda
Com grande entusiasmo e poder criativo eis que surge um jovem carismático e inteligente emanando arte por todas as artérias da alma, conclamando jovens coaracienses e das cidades circunvizinhas para o Primeiro Festival da Canção na Terra do Sol.
Este gênio/adolescente, Luiz Marfuz, contou com o apoio dos pais, Alfredo Salomão Marfuz e Julieta Marfuz, irmãos a juventude e toda a sociedade Coaraciense. 
Bruno Wilkins Ramos e Jailda
Filho genuíno da Terra, mudou-se mais tarde para a Capital a fim de continuar seus estudos, sendo hoje conhecido e respeitado no cenário cultural e artístico de toda a Bahia e do Brasil. 
Voltando ao Festival da Canção a febre mundial dos festivais não só inspirou como balançou e agitou a nossa Terra do Sol. 
Bruno e Jailda levantando a taça (1º lugar)
Estávamos vivendo os anos da ditadura onde tudo era inspecionado e censurado no Brasil. 
As músicas passavam mensagens subliminares usando subterfúgios que driblavam a censura no país.
 O Festival da Canção passou a ser um grande palco, ou melhor um disfarçado palanque político aonde os protestos vinham escondidos em letras inteligentes, canções belíssimas, e também em sátiras disfarçadas no teatro e em jornais clandestinos.
Em Coaraci o primeiro mascote para representar o festival foi desenhado por Alfeu Amaral, que transformara um
Mascote dos Festivais
cacau  simbolizando um jovem tocando guitarra e cantando. criação bastante inteligente  tornou-se a marca dos festivais que sucederam. O cacau representava a  monocultura tornando Coaraci um grande exportador vivendo a fase do ouro da economia local.
Jailda entre os manos Antonio e Francisco

A juventude corria de um lado para o outro, criando as letras e canções numa competição sadia e criativa acompanhados de violões, guitarras, teclado e bateria. O cinema bombou com jovens de toda a redondeza e com torcida organizada. 
Alfeu- fotógrafo do Festival, Jailda e Bruno
Em 1970, ano do primeiro festival convidada por Bruno Bruno Wilkins Ramos, que trabalhava no Banco do Brasil, para defender a música intitulada "O Canto do Retirante". Letra bonita e comovente contando a saga sofrida por todo o nordestino que vive o drama da seca. As letras dos concorrentes eram belíssimas com temas livres.
 A banca julgadora fora composta pelos moradores locais conhecedores de música e poesia. Ganhei o primeiro lugar em interpretação e a música saíra vencedora. 
Muitas outras,mereciam ganhar mas a banca escolhera por unanimidade O CANTO DOS RETIRANTES.  
Letra original do Canto do Retirante de Bruno Wilkins
Como acontecia em todos os festivaisdo Brasil e do mundo, algumas torcidas acharam injusta a escolha da música e mostrarando indignação e protesto.
Buscando coerência com a letra da canção confeccionei  uma saia de retalhos lembrando assim, a miséria vivida por muitos nordestinos. Horas antes, um passarinho voou a minha casa e sussurrou ao meu ouvido que, uma torcida,na tentativa de me instabilizar aguardava a minha entrada no palco e me vaiaria cantando "Colcha de Retalho"

Substituí a saia de retalhos por uma preta, do meu guarda-roupa,  adornando-a com flores de tecido da Loja A Girafa dos meus pais Jayme e Zilda Galvão. Deixei, assim, os torcedores sem ação. 
A canção do Bruno foi a vencedora  por unanimidade.
 Após a votação sendo escolhidos o primeiro, segundo e terceiro lugar a rivalidade pouco a pouco se esmaeceu e os competidores começaram a se inscrever para o segundo festival que aconteceria em 1971.
Eliane Galvão e Ednaldo Botelho, elegantemente vestidos, anunciavam a cada interpretação. 

As composições foram em tão alto estilo que, a canção de autoria do Luiz Marfuz e Vanildo Nunes -"A Humanidade vai Cantando"que ficara em quarto lugar, venceu o Primeiro Festival Estudantil de Música Popular realizado em Alagoinhas. 
Tem um refrão na letra de Livaldino Santos, música de Gentília Ramos "GIRA MUNDO VAGABUNDO NAS TANGENTES DO UNIVERSO" que guardo no coração como um dos versos mais bonitos que eu li e ouvi até hoje: Perfeita trova:
"Gira mundo vagabundo
Nas tangentes do universo
Gira a vida num segundo
Gira o mundo no meu verso."
Destaco também uma estrofe da letra de Luiz Marfuz e música de Roberto Marfuz, dois adolescentes criando música: 
"A sorte vai nos rios do país
O tempo desce nas cores do país
Eu desconheço o cosmo universal
Eu não mereço a dor sideral."


OBS: Arquivo pessoal de Jailda. Fotos de Alfeu. 

2 comentários:

  1. A esposa e filhos de Bruno agradecem e se alegram pelas memórias resgatadas... Meu pai foi muito feliz na composição desta música... ❤️

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    1. Bethânia, agradeço a você o carinho pelo comentário tão bonito.Agradeça aos seus pais também Veja que guardei até a letra. A música de seu pai, Bruno, foi a mais bela, bem escrita e de melhor conteúdo. Peça a ele para cantar para você. Um abraço para toda a família. Você está no Face? Como ficou sabendo? Fiquei mui feliz com o o seu comentário.As coisas belas da vida não podem ser esquecidas. Um grande abraço. Bjs.

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